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Língua Portuguesa - Pré-Modernismo - Terceiro ano

  • CEASP
  • 3 de abr. de 2020
  • 7 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2020

Colégio Estadual Antonio dos Santos Paim

Disciplina: Língua portuguesa e Literatura Brasileira

Profa.: Eliene Silva - Data: 01/04/2020


Prezados alunos,


Durante nosso período de aulas presenciais, demos início ao assunto do Pré-modernismo (livro didático, capítulo 1). Vamos agora fazer um resumo do que vimos até então.


De cara, aproveito para lembrar que o Pré-modernismo não é considerado uma corrente estético-literária, mas um período de transição que conserva as estéticas do século XIX (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo) e antecipa a estética do Modernismo, iniciado no ano de 1922.


Bom, eu disse em sala que para entender melhor como surgem as correntes estéticas literárias e as suas características é IMPRESCINDÍVEL entender o contexto histórico de quando cada tendência surge ou ganha força. Portanto, vamos entender o que estava acontecendo no Brasil, quando “surgem” as produções e os autores reunidos pelo rótulo “pré-modernista”.

Brasil, final do século XIX (1889 em diante)


No ano de 1889 foi proclamada a República no Brasil.


Reforma das cidades


Com a república, vieram as mudanças nas estruturas das cidades que eram os grandes centros políticos da época (Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e Belém). Esse processo de alargamento de avenidas e imitação de prédios europeus ficou conhecido como bota-abaixo.


E quais as consequências desse processo de reurbanização? Milhares de famílias pobres (negros recém libertos, sobretudo) foram obrigados a sair dos centros, onde habitavam em cortiços, para morar em lugares mais distantes, principalmente morros. Nasciam assim as favelas.


Vejam a cena da novela Lado a Lado, exibida em 2013, que ilustra o bota-abaixo carioca.


Temos então a aparente riqueza sugerida pela arquitetura europeia e do outro a população mais pobre que não tinham direito à educação, à saúde, viviam com condições mínimas de sobrevivência e a ida para lugares mais distantes contribuiu ainda mais para torná-los invisíveis aos olhos dos governantes. Cenário bem desigual, não?


Conflitos no Nordeste


O Nordeste sofria com as condições precárias de vida e o permanente problema da seca. Diante do cenário desolador, muitos aderiram a pregação messiânica de Antônio Conselheiro, beato que dizia que o sertão ia virar mar, anunciando o Juízo Final.


Não demorou para que Conselheiro se desentendesse com os poderes republicanos e conflitos começaram a surgir. Logo, isso se transformou numa das guerras civis mais sangrentas da história do Brasil: a Guerra de Canudos, que durou quase um ano e dizimou cerca de 25.000 brasileiros, entre soldados e conselheristas.


Do outro lado do Nordeste, quem não sentiu o apelo religioso ouviu a outro chamado: o do cangaço. Várias foram as batalhas entre a polícia e os cangaceiros, os quais exigiam dos grandes coronéis o pagamento de “taxas” de proteção para suas fazendas (alguma semelhança com a milícia atual?) O mais famoso líder cangaceiro, Virgulino Ferreira, o Lampião, quando morto, teve sua cabeça arrancada e levada por várias cidades para ser exibida como prêmio e como intimidação.

A riqueza da borracha e do café


A Amazônia viveu nesse período a sua fase mais próspera devido à extração da borracha. Por esse motivo, Manaus e Belém tornaram-se importantes centros econômicos e culturais.


Enquanto isso, São Paulo passava por uma expansão econômica graças ao cultivo do café.


O Panorama geral do Brasil desse período então era assim: pequenas zonas de prosperidade e riquezas cercadas por grandes extensões marcadas pela pobreza, muitas vezes extrema.


Os autores em busca de um país


As mudanças pelas quais passava o país (econômicas, políticas e econômicas) não deixavam mais espaço para a idealização. Os autores não mais queriam encontrar ou criar uma identidade para o Brasil ou para o povo brasileiro. Era hora de se obter um conhecimento profundo das condições de vida que podiam ser observadas nesse país. Por esse motivo, o foco da produção literária se fragmentou, e os autores passaram a escrever sobre as diferentes regiões, os centros urbanos, os funcionários públicos, os sertanejos, os caboclos e os imigrantes.


Todos esses temas eram motivo de interesse para autores como Euclides da Cunha, Graça Aranha, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos e Lima Barreto.


Essa multiplicidade de focos torna impossível considerar o Pré-modernismo como uma corrente estético-literária. Pode-se apenas agrupar esses autores que têm em comum além do foco variado, o intuito: o de revelar o “verdadeiro” Brasil ao povo brasileiro. Esse é o PROJETO LITERÁRIO DO PRÉ-MODERNISMO.


ATENÇÃO! Como não existe um critério estético para definir a produção pré-modernista, adota-se um princípio cronológico. É considerada pré-modernista a produção literária que ocorreu entre 1902 (com a publicação de “Os sertões”) e 1922 (ano em que ocorreu a Semana de Arte Moderna, marco da chegada do Modernismo).


Agentes do discurso


Condições de produção:

- A população dos grandes centros começa a se interessar pelas notícias diárias e a buscar, mesmo em produções literárias, textos que narravam acontecimentos históricos e atuais.

- As inovações tecnológicas (telégrafo e fotografia) contribuem para a circulação mais rápida dos textos.


Linguagem


Há uma clara aproximação entre a literatura e a realidade. Resultado?

- Os textos pré-modernistas traziam uma linguagem mais ágil,direta e objetiva, sem floreios e muitas voltas, tal como a linguagem jornalística.

- Há a desmistificação do texto literário, a crítica a situação social e econômica contemporânea, constituindo assim uma literatura que retrata uma Brasil mais real.

Conhecendo autores pré-modernistas I -

Euclides da Cunha


É o primeiro entre os pré-modernistas a promover uma aproximação entre Literatura e História. A publicação de Os sertões ocorreu 5 anos após o fim da guerra de Canudos, objeto de descrição do livro.


Características de “Os sertões”


- É considerada a Bíblia da nacionalidade brasileira.

- É um livro de difícil classificação, pois apresenta ao mesmo tempo características de texto literário, de tratado científico e de investigação socioantropológica.

- Apresenta uma visão determinista. (pesquise o significado dessa palavra e anote-o no caderno.)

- Está dividido em três partes: A terra, apresentação detalhada das características do serão nordestino); O homem, que faz um retrato do povo sertanejo, mostrando como o meio tem impacto sobre as pessoas; A luta, que narra os embates entres as tropas oficiais e os sertanejos.

- Linguagem: emprego constante de expressões que sugerem um conflito interior, emprego de termos científicos e desejo de transmitir um realismo absoluto do que é narrado.

Lembrete: em certa passagem do texto, Euclides da Cunha usa o termo "Hércules-Quasímodo" para se referir ao sertanejo. Hércules faz referência a figura grega de um semideus, filho de Zeus, famoso por sua força e bravura. Já Quasímodo é a referência a figura do corcunda de Notre Dame, disforme, corcunda e surdo. Reparem bem no conflito de imagem que essa expressão gera.


Atividades



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1) Observe a fotografia da abertura. Que situação parece ser retratada na imagem? Justifique.

2. Essa foto, intitulada Prisão de jagunços pela cavalaria, foi feita por Flávio de Barros em 1897, durante a guerra de Canudos, conflito que opôs os seguidores do beato Antônio Conselheiro e as tropas do Governo federal.

a) O que a aparência das pessoas sugere sobre sua condição socioeconômica?

b) É possível identificar um a diferença significativa entre os jagunços e os membros da cavalaria? Explique.

3. Como fotógrafo encarregado de exaltar os feitos do exército brasileiro na guerra de Canudos, Flávio de Barros recorreu, em alguns casos, a “encenações” que retratassem o embate entre soldados e jagunços, já que não havia condições reais para fotografar esses momentos. Acredita-se que a foto Prisão de jagunços pela cavalaria seja uma das simulações criadas por Flávio de Barros. Qual pode ter sido a intenção do fotógrafo ao criar essa encenação?


4. Leia o trecho da obra Os sertões, de Euclides da Cunha:


Aspecto original


A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro. O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômoros, atulhando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores — tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto.[...]


Feitas de pau-a-pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um atrium servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. [...] Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. [...] O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça. [...].


[... ] Vinham [as caravanas de fiéis] de todos os pontos, carregando os haveres todos; e, transpostas as últimas voltas do caminho, quando divisavam o campanário humilde da antiga Capela, caíam genuflexos sobre o chão aspérrimo. Estava atingido o termo da romagem. Estavam salvos da pavorosa hecatombe, que vaticinavam as profecias do evangelizador. Pisavam, afinal, a terra da promissão — Canaã sagrada, que o Bom Jesus isolara do resto do mundo por uma cintura de serras...

Chegavam, estropiados da jornada longa, mas felizes.


CUNHA, Euclides da. Os sertões. In:Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. v. 2, p. 227-232. (Fragmento).


Glóssario


Urbs:em latim, cidade, capital.

Civitas:em latim, cidade, conjunto de cidades, raiz de civilização. O termo é usado, no trecho, com o sentido de civilização.

Cômoros:pequenas elevações de terreno.

Canhadas:planícies entre montanhas.

Pendores:rampas (declive ou aclive).

Atrium:em latim, átrio, sala principal.

Genuflexos:ajoelhados.

Termo da romagem:fim da romaria.

Hecatombe:destruição, desgraça. No contexto da pregação de Antônio Conselheiro, refere-se ao momento do Juízo Final, quando todos os fiéis serão julgados por Deus.

Canaã:na Bíblia, é a terra prometida ao povo escolhido por Deus. Lugar de fartura e felicidade terrenas.


a) Como é descrito o povoado que está sendo construído pelos seguidores de Antônio Conselheiro em Canudos?


5) Releia este trecho, observando os adjetivos destacados.


Feitas de pau-a-pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um atrium servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. [...] Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. [...] O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça. [...].


a) O que os adjetivos sugerem a respeito das casas de canudos?


b)No fim desse parágrafo, o narrador conclui que aquelas casas traduziam “mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça”. Que relação há entre essa conclusão e a comparação entre as casas romanas e as habitações dos fiéis?


6.Depois de descrever o povoado, o narrador volta-se para as pessoas.


a) Que motivação elas tinham para ir até o povoado e ali ficar?


b) No caderno, transcreva o trecho que comprove sua resposta.


c)“Vinham de todos os pontos, carregando os haveres todos.” Essa frase oferece uma importante pista sobre a condição social dos fiéis que mudam para Canudos. Que condição é essa? Justifique com base no trecho.


7.Que explicação o texto dá para o fato de, mesmo chegando “estropeados”, os romeiros estarem felizes?




 
 
 

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