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Língua Portuguesa - terceiro ano - autores pré-modernistas

  • CEASP
  • 15 de abr. de 2020
  • 5 min de leitura

Colégio Estadual Antonio dos Santos Paim

Disciplina: Língua portuguesa e Literatura Brasileira

Profa.: Eliene Silva - Data: 15/04/2020 - Série: 3º ano


Conhecendo os autores pré-modernistas III:

Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos


Oi, pessoal!


Voltamos com nosso assunto sobre os autores pré-modernistas e hoje conheceremos um pouco sobre Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos.


Vamos lá!!


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Divulgação: Tv Globo

Talvez o nome Monteiro Lobato não diga nada a vocês. Mas, muito possivelmente, vocês conhecem um ou mais personagens

que estão aparecendo na foto ao lado


O Sítio do picapau amarelo é, sem sombra de dúvidas, o "universo" mais conhecido criado por Monteiro Lobato. Emília, a boneca de pano que ganhou vida, o Visconde de Sabugosa, Tia Nastácia, Dona Benta, Narizinho e Pedrinho são personagens que até hoje povoam o imaginário da população brasileira.


A carreira de Monteiro Lobato como escritor começou quase que por acaso, através de uma carta que ele enviou para o jornal o Estado de S. Paulo, na qual narrava questões típicas da vida rural, sobretudo, os problemas, os quais eram desconhecidos por boa parte do Brasil "oficial".


A primeira obra literária de Lobato foi Urupês, onde aparece pela primeira vez o Jeca Tatu, caboclo parasita que incendeia a terra, esgota seus recursos e depois muda-se para continuar em outro lugar os seus hábitos ruins. Em outras obras, é possível notar que a preocupação do autor é demonstrar a decadência das pequenas cidades (especialmente as do Vale do Paraíba) produtoras de café que perdem espaço quanto o cultivo desse grão é descolado para o Oeste Paulista. É esse trabalho de mostrar uma parte do Brasil que é desconhecida do público dos grandes centros urbanos e colocar no protagonismo de uma obra literária, anda que com uma visão não exatamente positiva, um tipo que até então havia sido ignorado por escritores de gerações anteriores que permite colocar Lobato no grupo de escritores pré-modernistas.


Mas observaram como a figura do caboclo aqui já é bem diferente da que é mostrada por Euclides da Cunha? Vejamos um trecho de Urupês.


[...] a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé. [...]


Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as características da espécie. [...]

De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa. [...]


De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”, imitado da mulher e da prole. Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras.


Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo... Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher — cocos de tucum ou jiçara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, orquídeas; ou artefatos de taquara-poca — peneiras, cestinhas, samburás, tipitis, pios de caçador; ou utensílios de madeira mole — gamelas, pilõezinhos, colheres de pau.


LOBATO, Monteiro. Urupês. 37. ed. São Paulo:Brasiliense, 2004. p.166-170. (Fragmento).


Se vocês leram até aqui e não sentiram TODO o peso da crítica que Lobato faz aos caboclos, então leram errado, voltem lá pra cima e leiam novamente! 😂😂


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Para finalizar a explanação sobre Lobato,

lhes apresento o cabra, em "carne, osso" e sobrancelha.







Augusto dos Anjos: o poeta de muitas faces


Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia, Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário de ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida, em geral, declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.64. (Ensaios, 32



Optei por começar a apresentação de Augusto dos Anjos com um de seus poemas mais conhecidos, para que vocês, de cara, já entendam o porquê de a marca de seus escritos serem a angústia e o pessimismo.


A obra de Augusto dos Anjos, enigmática e sombria, revela a influência de diferentes estéticas do séc. XIX. Nelas pode-se notar a preocupação com a construção formal do poema e das imagens forte, características herdadas do Simbolismo; Do Naturalismo, observa-se o uso de termos científicos; Já do Parnasianismo, vê-se a preferencia pela estrutura de soneto.


Porém, as divagações metafísicas e a expressão de uma angústia existencial é que são as características mais fortes desse escritor. Essas características podem ser vistas no soneto abaixo (o mais conhecido do autor). Leia o poema e depois assista ao vídeo em que o ator e diretor Paulo José o interpreta.


Versos íntimos - Augusto dos Anjos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera - Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!”



O que mais chama a atenção neste poema é que o eu lírico dirigi-se ao leitor para afirmar a impossibilidade de ser feliz. Para o autor, os gestos de solidariedade devem ser vistos como sinal de desilusão futura.


Outra característica que marca o estilo do autor é a linguagem: o autor recorre constantemente à ciência, da Biologia à Filosofia, incluindo em seus poemas palavras como amoníaco, carbono, psicogênese, trauma neuronial, etc, além de usar termos fortes e marcantes como sangue podre, carnificina e escarro. Por essa razão, o vocabulário utilizado por Augusto dos Anjos foi considerado de "mau gosto" pelos críticos da época.


Agora, vamos às atividades!!


Atividades


1. A caracterização que Monteiro Lobato faz do caboclo é vista por muitos como preconceituosa e lhe valeu muitas críticas. Volte ao trecho de Urupês transcrito neste post, releia-o e reflita um pouco: a imagem do caboclo no texto denota, de fato, preconceito? Justifique.


Leve a discussão para o grupo da turma! Compare suas respostas com a dos colegas e observe quais argumentos ele usa para defender o próprio ponto de vista.


Leia o poema transcrito abaixo para responder as questões a seguir.

 

O Deus-Verme


(Neste soneto, o eu lírico trata da morte em sua dimensão física)


Fator universal do transformismo, Filho da teleológica (1) matéria, Na superabundância ou na miséria, Verme –  é o seu nome obscuro de batismo.


Jamais emprega o acérrimo (2) exorcismo Em sua diária ocupação funérea, E vive em contubérnio(3) com a bactéria, Livre das roupas do antropomorfismo(4).


Almoça a podridão das drupas agras(5), Janta hidrópicos (6), rói vísceras magras E dos defuntos novos incha a mão…


Ah! Para ele é que a carne podre fica, E no inventário da matéria rica Cabe aos seus filhos a maior porção!


ANJOS, Augusto dos. Eu. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1996. p. 209.



1.Uma das características da obra de Augusto dos Anjos é a incorporação de um vocabulário científico à poesia. No soneto transcrito, quais palavras justificam essa afirmação?


2.O tema da morte é abordado por muitos poetas, que tratam de sua dimensão espiritual ou sentimental. Como a morte é apresentada no poema acima?




 
 
 

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