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Língua Portuguesa - Terceiro ano

  • CEASP
  • 8 de abr. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 11 de abr. de 2020

Colégio Estadual Antonio dos Santos Paim

Disciplina: Língua portuguesa e Literatura Brasileira

Profa.: Eliene Silva - Data: 08/04/2020



Conhecendo os autores pré-modernistas II - Lima Barreto



Fotografia de Lima Barreto tirada durante os três dias em que esteve internado no Hospício Nacional Foto: Divulgação / Agência O GLOBO

Oi, terceiro ano 😉!!


Espero que este período de isolamento social esteja sendo de paz e tranquilidade. Espero também que vocês estejam realmente #Emcasa e que estejam usando o tempo de vocês de forma produtiva: se divertindo, se informando, aprendendo coisas novas e estudando, afinal, o ENEM 2020 foi mantido e imagino que vocês tenham muitos sonhos e planos.


Hoje vamos estudar um pouco da vida desse carinha ali em cima, Afonso Henrique de Lima Barreto, ou simplesmente Lima Barreto (1881-1922). Esse homem, hoje reconhecido como grande jornalista e romancista, não teve uma vida fácil. Órfão de mãe aos seis anos, mais tarde teve que deixar de estudar para trabalhar e sustentar os três irmãos, já que o pai havia ficado louco. Então, ele fez concurso e tornou-se funcionário público, foi também diretor de revista, teve problemas de alcoolismo e depressão, foi internado num hospício duas vezes... (lembrem-se dele quando acharem que a vida de vocês tá difícil) e morreu aos 41 anos (Se tiverem interesse em conhecer mais sobre Lima Barreto, cliquem aqui.).


Outra informação importante sobre Lima Barreto: como vocês podem perceber pela foto, ele era negro. Antes de continuar a leitura, quero que vocês tomem um tempo para refletir o que pode significar ser um escritor negro nesse período ( a abolição da escravatura tinha ocorrido 7 anos após o nascimento do escritor, em 1888.)

.


Pensaram? A que conclusão chegaram?


Se vocês acharam que a obra desse escritor provavelmente foi ignorada pela sociedade de seu tempo e que ele sofreu muito com o preconceito, adivinhem? Infelizmente, acertaram.

Sim, ele sofreu na pele o preconceito de uma sociedade que discriminava as pessoas com base da cor pele, entre outras coisas.

Através de seus romances, Lima Barreto deu voz a personagens que povoavam o subúrbio carioca e que até então eram ignorados pela elite e pelos escritores românticos e realistas: a pequena classe média, professores, funcionários públicos, moças à espera de casamento, etc.

O conjunto da obra de Lima Barreto (contos, crônicas e romances) ajuda a deixar mais claros os verdadeiros mecanismos de relacionamento sociais típicos do Brasil do séc. XX.


Obras de Lima Barreto


Os textos de Lima Barreto, nos quais é sempre possível observar traços autobiográficos, tratam de temas como as desigualdades sociais, o preconceito e a hipocrisia dos homens em suas relações sociais, e quase sempre são abordadas por meio da ironia, do humor e do sarcasmo.


Principais Obras




Este é o primeiro romance publicado por Lima Barreto. O protagonista, Isaías, é um jovem mulato que vai do interior para a capital e mesmo sofrendo muito preconceito, conseguiu relativo sucesso em sua carreira. Isso é exatamente o que ocorreu com o próprio escritor, Lima Barreto.


O livro tem, portanto, um forte teor autobiográfico.




Romance inacabado e publicado após o falecimento do autor, Clara dos Anjos retrata a vida de uma jovem moça seduzida por um tipo suburbano, Cassi Jones. A temática do preconceito, é claro, também está presente aqui.


Leia este trecho do livro que mostra uma cena narrada logo depois que Clara é humilhada pela família do homem que a seduziu:


[...] Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que tinha presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos [...]

[...] Ora, uma mulatinha, filha de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade [...], para se defender de Cassis e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...[...]


Uma das coisas que mais nos chama atenção nesse trecho e que também mais comove, é a visão pessimista revelada pelo autor, que constata a "impossibilidade de vencer numa sociedade acostumada a determinar o valor de uma pessoa pela cor de sua pele."




Esse é mais conhecido romance desse autor, considerado a como a sua"obra-prima". O protagonista, Policarpo Quaresma, é um major que trabalha como subsecretário do Arsenal de guerra. É também profundo conhecedor do território, costumes e cultura brasileira e extremamente patriota. Tanto que torna-se alvo de chacota de seus colegas de trabalho. Leia o trecho a seguir:


[...] Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, [...] estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo - Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?” [...] Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, concentrou o pince-nez, levantou o dedo indicador no ar e respondeu:

- Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria. [...].

Neste livro, Lima Barreto tematiza o embate entre o ideal e o real. Em Policarpo, o patriotismo desmedido é o "ideal", ele vive somente para engrandecer sua pátria, sem pensar em si mesmo ou mesmo em sua carreira. O real chega em forma de desilusão, quando, ao longo do livro, Policarpo vai chegando à conclusão que dedicou sua vida a "causa inútil". Essa é a mesma desilusão sentida pelo próprio Lima Barreto.



ATENÇÃO!!!


Vocês são livres para escolher qualquer dos romances apresentados no post de hoje, mas terão, obrigatoriamente, que ler um conto desse autor. Quem decidir ler o romance - e me provar que leu - terá uma questão de resposta opcional na prova (valendo nota extra).

Leitura sugerida: Clara dos Anjos (clique aqui para baixar e ler o romance)

Leitura obrigatória: O homem que sabia javanês (clique aqui para baixar e ler o conto)



Agora vamos às atividades!!



Atividade


Leia o trecho a seguir para responder às questões que se seguem.


V

A Afilhada

Acusado de traição, Policarpo Quaresma espera pela

morte e reflete com amargura sobre o nacionalismo

ingênuo que o impediu de ver o verdadeiro

país que tanto defendeu.



[…] Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. […]

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.

A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete.[…]

Contudo, quem sabe se outros que lhe seguissem as pegadas não seriam mais felizes? E logo respondeu a si mesmo: mas como? Se não se fizera comunicar, se nada dissera e não prendera o seu sonho, dando-lhe corpo e substância?

E esse seguimento adiantaria alguma coisa? E essa continuidade traria enfim para a terra alguma felicidade? Há quantos anos vidas mais valiosas que a dele, se vinham oferecendo, sacrificando e as coisas ficaram na mesma, a terra na mesma miséria, na mesma opressão, na mesma tristeza.[…]

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. In: VASCONCELLOS, Eliane (Org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2001. p. 404-405. (Fragmento).


1. O trecho apresenta dois retratos de Policarpo: o que caracterizou a sua vida e aquele que surge diante da morte. Quais são as características de cada retrato?


a) Ao refletir sobre sua trajetória, o protagonista se dá conta do que fez em nome de seu patriotismo. Quais foram suas ações?


2. Qual é a imagem idealizada que Policarpo tinha do povo brasileiro?


3. Apesar de saber que a pátria que buscara era um mito, Policarpo ainda mostra esperança de que sua trajetória e seu ideal não tenham sido em vão. Mas essa esperança logo se desfaz. Explique por quê.


a) A amargura da personagem é mais forte no trecho final do texto transcrito. Como sua desesperança é apresentada no último parágrafo?


4.De que forma a transformação de Policarpo exemplifica a intenção dos pré-modernistas de criar uma consciência crítica a respeito do Brasil?


 
 
 

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